sábado, 19 de maio de 2012



  1. DICAS VALIOSAS PARA DESENHISTAS INICIANTES 01

      

    Recebi vários pedidos de inscrição de desenhistas e ilustradores, como colaboradores. Isso por causa da minha procura por desenhistas e ilustradores para o repasse de trabalhos que eu porventura não possa executá-los. Pois, existem situações em que você não pode pegar um serviço, e para não deixar o cliente potencial na mão, convém que passe a encomenda para quem que esteja disposto a efetuar o serviço.
    Alguns desses pedidos, porém, eram de iniciantes inexperientes, cujos trabalhos estavam muito aquém do que é exigido no mercado. No entanto, me surpreenderam pelo interesse em aperfeiçoar-se na arte e realizar-se como desenhista ou ilustrador. Percebi que a maioria são jovens (possivelmente na fase de adolescência ou depois), e que tinham pouca ou nenhuma base teórica e/ou prática em desenho. Resolvi então, postar aqui algumas dicas valiosas, e que já tinha dado para um dos interessados por E-mail.
    IMPORTANTE: Essas dicas não são para serem seguidas à risca. E sim, apenas uma sugestão ou idéias. Elas seguem uma linha de raciocínio e tendência: A minha visão do que seja uma realização em Artes. Você pode não concordá-las, mas por favor, leia-as na íntegra. Creio que alguma coisa pode lhe ser útil.
    Em primeiro lugar, você deve saber de que um bom curso de desenho ou de arte não forma um bom desenhista, ilustrador ou artista plástico. Pois isso depende de cada um de nós. Depende da tua vocação, interesse, habilidades etc. Mesmo que não tenha as habilidades, pode adquiri-las. Mas o mais importante é o interesse em realizar-se nessa área. E principalmente a paixão. Isto é, o grande prazer em assumir e realizar-se como tal. Porque o verdadeiro diploma de um desenhista, ilustrador ou artista plástico não é aquele que ele adquire em uma escola ou faculdade, e sim, os seus trabalhos apresentados. São eles que atestam a sua qualidade e o talento.
    Em segundo lugar, todo bom desenhista, ilustrador e principalmente artista plástico é um autodidata. Mesmo quando ele fez cursos específicos, foi para adquirir certas habilidades ou esclarecer certas dúvidas, e que de outra forma não seria possível. Mas em geral, ele mesmo toma as iniciativas no seu próprio aprendizado de novas técnicas e habilidades. Porque a Arte é essencialmente experimental e momentos de descobertas. Logo, você só se realiza através de experiências e de modelos assimilados.
    Modelos aí significam características dos objetos do mundo real, e que precisam ser assimilados (absorvidos) na nossa mente, tornando-se recorrentes para as nossas realizações como artistas. Vão deste texturas, brilhos e formatos de pedras, madeiras, sombras, metais, cristais etc., até figuras humanas, de animais, anatomias e outras. Razão porque um bom desenhista deva andar com um caderno de desenho ou sketchbook, acompanhado de um instrumento de desenho - um lápis, de preferência, e sempre grudado nele.
    Essa assimilação não significa cópias, e sim, formas de interpretração e exercícios de percepção. Do contrário, você não terá substrato para fazer algo mais “sólido”, “firme”, nos teus trabalhos. Mesmo que a tua intenção seja de fazer as artes abstratas, expressionistas etc., você precisa primeiramente de uma base...
    E certamente um sketchbook não serve apenas para captar e interpretar o mundo exterior. Ele serve, e muito mais, para desenvolver e expor as nossas idéias.
    Na verdade, quando o desenhista precisa fazer um curso, é mais para entrar em contato com os colegas do que em adquirir as novas habilidades ou esclarecer certas dúvidas. Evidentemente que a finalidade era essa. Mas o contato é igualmente importante. Pois, geralmente a sua profissão é um pouco solitária. Principalmentequando trabalha como freelancer (autônomo).
    Contatos para trocas de idéias, o uso do sketch no dia-a-dia, os aprendizados pessoais etc. Somados com a experiência pessoal, é o que faz o grande diferencial, e que valoriza o desenhista ilustrador ou artista plástico. Não importa em que condições você se encontra. Nem se a tua experiência pessoal foi um sucesso ou não. Sempre enriquece. Mesmo sendo uma vida de fracassos.
    O meu caso por exemplo: Eu desenhava desde pequeno (lá por volta de 6 ou 7 anos de idade). E as minhas primeiras “esculturas” eram as marcas de rodas dos carrinhos (os “matchbox”) sobre uma parede caiada de gesso (experiências com materiais), além de montagens de casinhas com cartolina. Isso ocorreu porque eu estava no primeiro ano da escola (ensino básico), e via os colegas do segundo ano a montar os cubos, cilindros e cones de cartolina, o que me despertou a curiosidade de querer fazer algo parecido. Mas eu estava no primeiro ano, e tinha de ser alfabetizado. Catei então, os restos de cartolina que a turma do segundo ano deixara cair das carteiras, e fiz uma casinha... Aliás, creio que nunca montei um cubo...
    Praticamente desenhei durante a infância e a adolescência. Mas depois de uma exposição do Clube de Ilustradores no MASP (Museu de Arte de São Paulo), isso na segunda metade da década de 70, é que comecei a levar mais a sério o desenho e a pintura. Pesquisei então os livros das bibliotecas disponíveis. E depois, adquiri os materiais. Eu queria repetir aqueles trabalhos que me fascinaram.
    Foi assim que descobri o lápis a carvão, sangüínea, fusain, pastel (do tipo seco e a óleo), bico-de-pena, além de composição, equilíbrio, perspectiva etc. Lápis de cor e aquarela porém, todo mundo já usou desde pequeno. Portanto, dispensa-se de comentários. Mas cada material que eu adquiria, fui experimentando-as nos meus desenhos.
    E acabei adotando o pastel do tipo seco, porque dava, a meu ver, os mesmos resultados das nuanças que eu via nas admiráveis ilustrações da exposição. Só bem mais tarde, quando comecei a trabalhar em um estúdio, é que fiquei sabendo que o efeito dessas nuanças era conseguido através do bendito aerógrafo. Não tinha nada a ver com os pastéis do tipo seco, ou a óleo, fusain, sangüínea, carvão etc.
    OU SEJA: Não importa em que estágio você está, ou talvez esteja apenas no começo, e não tenha nenhuma base. Acontece que houve um momento em que você decidiu fazer algo, e deu aquele estalo (ou pontapé inicial). E começa o processo enriquecedor. É daí que deve aproveitar a cada momento que vai enriquecer a tua experiência pessoal. O que te fará diferente dos demais. E essa diferença tornará parte do teu estilo e formação como artista. Razão porque não deve desistir. Jamais. Porque se você teve a paixão (ou alguma) naquilo que resolveu fazer, deve então prosseguir. E mesmo que um dia essa paixão se extinguir, pelo menos uma fase da tua vida se enriqueceu.

    Os clássicos

    Muitos dos trabalhos apresentados carecem de uma estrutura básica, como as proporções certas das figuras, do equilíbrio da composição, do domínio de certos instrumentos e técnicas... A maioria dos trabalhos foram feitos a lápis.
    Porém, para entrar no mercado de desenho e ilustração, ou simplesmente para realizar-se como um bom artista, é preciso antes uma boa estruturação ou embasamento. Além de princípios e rigor estético, e conhecimentos em várias áreas das artes plásticas.
    Nunca vou esquecer do “trabalho” feito por um jovem rapaz, e que ficava exposto em uma banca de revistas encalhadas, no centro da cidade. A intenção era de vendê-lo. Imagino que o responsável da banca permitiu essa exposição por uma questão de amizade. Porque a “arte” era simplesmente horrorosa. Talvez por causa disso, muitos “adotaram” à pintura abstrata, diferenciada, alienada etc., e se considerava um “incompreendido”.
    Na verdade, Arte é coisa séria. E poucos sabem fazê-la.
    O que faltou são as referências, os exemplos dos clássicos: Leonardo da Vinci, Michelangelo e outras figuras do Renascimentos, principalmente para os estudos anatômicos do corpo humano, as perspectivas e composição. E depois, as escolas, como o academismo, o expressionismo, o primitivismo etc., para a visão de outras formas de realização em artes.
    Por que os clássicos? Simplesmente porque essas figuras citadas, mesmo que não sejam do nosso tempo, chegaram ao limite da observação e da perfeição estética, até aonde podiam. Portanto, são boas referências para sabermos aonde estamos pisando. Além disso...
    Para a realização em qualquer área ou campo do desenho, ilustração ou nas artes plásticas é preciso passar por fases de amadurecimento e formação, e adquirir certos conhecimentos (em graus maiores ou menores). Não importa qual o estilo adotado, o artista precisa ter pelo menos os conhecimentos mínimos em:
    • Geometria.
    • Composição.
    • Perspectiva.
    • Luz, sombra e contrastes.
    • Teoria das cores.
    • Anatomia humana (e dos animais).
    • Possivelmente outros não citados.
    ...e ter experimentado outros estilos de desenhos (alguns). Não superficialmente, mas pelo menos um pouco mais a fundo.O caso da anatomia humana: Se você não conhece as noções básicas, pode ter a certeza que vai cometer os erros, e facilmente visíveis. Aqui eu faço a minha observação: Quando recebo os trabalhos de desenhistas, e que tenham figuras humanas, estas são as primeiras a serem avaliadas. De onde tiro a conclusão se o sujeito de fato é bom ou não. Principalmente se tiver retratos. Justamente aonde os defeitos são bem mais visíveis.
    PIOR! Muitos não sabem, mas bons desenhistas e ilustradores não fazem retratos a partir de fotografias. E se fizeram, não vão expor nos seus portfolios. A razão? É muito simples: Um desenhista é o profissional que projeta o que ele vê, capta e interpreta do mundo real para uma superfície plana. E o mundo real é em 3D (três dimensões). Na verdade, são quatro dimensões, sendo o quarto o tempo. E isso é muito enriquecedor. Porque ele está dentro de um espaço tridimensional, e em ação. Logo, ele interage com o mundo que o cerca. Ora, a foto é na verdade uma superfície plana. Ou seja, em 2D. E que já é a projeção de uma realidade que deixou de existir. Então, muito se perde nela.
    Percebo muitas vezes quando um retrato é tirado de uma fotografia, e quando não é. Quando o desenhista faz o retrato a partir de um modelo real, ele capta e interpreta os traços a partir do que seus olhos vêem. Na foto porém, ele estará captando esses traços a partir do que foi impresso lá. E fica preso a isso.
    Cheguei a fazer retratos a partir de fotografia sim. Três talvez, e foi antes da minha profissionalização. As garotas da escola aonde eu estudava pediam para fazer seus retratos a partir das fotos 3x4. Foi no ensino médio. E depois, nunca mais. Durante a minha carreira, fiz os retratos dos colegas de trabalho a partir de observações diretas. E muitas vezes eles nem percebiam o que eu estava fazendo.
    Fico pensando de onde veio essa idéia de fazer retratos a partir de fotos. Será que foi a inspiração de algum desenhista-camelôs, e que tentou repetir o processo fotográfico com o lápis? Ou pior ainda: Com lápis carvão? Alguns até tentam o uso da sangüínea (viragem sépia em fotografia?). E outros chegam a fazer colorido. Idéia meio besta. Se fosse assim, não teria o sentido o uso da fotografia.
    Com isso, materiais como o lápis carvão, a sangüínea e outros ficam sub-utilizados. Basta comparar com os retrados feitos por Leonardo da Vinci e outros grandes pintores, para ver a grande diferença. Tudo bem que eram gênios. Mas servem de referências. E o pior é que isso torna-se em um círculo vicioso: Quando se usa esses materiais para fazer fotocópias de cópias fotográficas, deixam de explorá-los de maneira adequada. E se condicionam a isso, achando que é a forma correta de usá-los. E vão passando para os outros, que imitam por“osmose” (afinal, aqui tudo se imita), e sem pensar.
    Certamente que a fotografia é muito útil. Por exemplo, para captar certos cenários, e de maneira rápida, e que serão usados como referências. Ou certas texturas, brilhos, formações: As rochas, os metais, as estruturas complexas, as paisagens, composições das nuvens etc. Ou certos efeitos, e que não consegue captar a olho nu: Respingos de água, choques de objetos, fluidos em movimentos rápidos e outros.
    Mas você quer ser um bom desenhista, ou ilustrador ou artista plástico? Então, procure captar a realidade que te cerca, observando diretamente os modelos vivos, retratando as pessoas e seus rostos. É mais humano e emocionante.
    De resto, não precisa ser um Michelangelo, um Rafael ou um Rodin. Basta conhecer os princípios básicos do desenho do corpo humano. E com o tempo, adquirir a liberdade de se expressar nele.
    Além dos conhecimentos teóricos citados acima, o artista precisa ter familiaridade com certos instrumentos e materiais:
    • O lápis é por excelência a ferramenta do desenhista. Dê a preferência a lápis do que a lapiseira. Sei que cada um tem o seu estilo, e essa minha opinião pode ser um juízo de valor. Mas é por experiência mesmo. No começo da minha carreira profissional como desenhista, eu usava as lapiseiras, e daquelas um pouco pesadas. E depois, tentei adotar as lapiseiras 0,5 e 0,9 mm. Só bem mais tarde é que descobri que não há nada melhor do que um simples e bom lápis. Porque você sente o material sendo aplicado no papel. Uma lapiseira nem tanto. Também com o tempo, entendi porque os meus colegas que desenhavam o Fantasma, Tarzan etc., e que eram bem mais velhos do que eu, preferiram o lápis. Além disso, não importa se você é um expert no Photoshop, no Corel Draw, no Blender ou no 3D Studio, na hora de esboçar uma idéia, não há nada melhor do que um simples lápis e um bloquinho de desenho.
    • Sketchbook (ou o tal do bloquinho de desenho) é o caderno de anotações do desenhista. Ele o leva aonde for, e com ele vai esboçando: Em casa, na rua, dentro do ônibus, na praça, na cidade etc. Você até pode pensar em um tablet. Mas o dia em que o aparelho cair e quebrar, ficará sem ele (isto é, se não for roubado). Além disso, com um sketch você pode experimentar vários materiais... Veja o artigo sobre sketchbook (já citado).
    • Desenhos a carvão, pastel, bico-de-pena, têmpera, aquarela etc. são os próximos passos do desenhista, além dos traços à lápis. Cada forma de expressão tem suas características próprias, e enriquecem o artista. Uma vez comentei com um nissei sobre as características da pintura convencional, e ele retrucou que tudo podia ser feito com o Photoshop. Tentei convencê-lo de que não é a mesma coisa. Não adiantou nada.
    • Vários tipos de papéis - Cada um com as suas características. Pouca gente sabe que o pastel do tipo oleoso, e aplicado sobre um desenho a nanquim sobre o papel vegetal, consegue um efeito delicado e bonito, e que os arquitetos muito apreciam. Ou que uma pintura aquarela sobre um papel especial para isso, pode superar em sutileza e beleza a uma pintura a óleo. Mas não se compara, porque são técnicas diferentes.
    Esses materiais citados não são necessariamente de uso comercial. Isto é, para o acabamento das artes a serem comercializadas. Se bem que podem ser usado para esse fim. Na realidade, servem mais para a formação e o enriquecimento do artista. Para a finalidade comercial, geralmente são aceitos os seguintes:
    • Bico de pena - Muitas vezes confunde-se com as canetas a nanquim do tipo técnico. Hoje em dia usa-se as descartáveis. Na verdade os resultados são diferentes. Convém que tenha os dois tipos: As tradicionais penas de metal, e as canetas (sejam descartáveis ou não). Servem mais para: Ilustrações para livros, logotipos, quadrinhos, charges, caricaturas etc. Também muito utilizado para fazer fotolitos para silkscreen (serigrafia).
    • Ecolines, guaches, tinta acrílica ou aquarelas - Esse último pode ser em um pequeno e prático estojo. Cada material tem seus resultados específicos. Usados em ilustrações em geral.
    • Marcadores e tinta spray em lata - Para grafitagens... Sim, tem mercado para esse tipo de arte, e não é pouco. Vai desde capacetes para motos, veículos e sabe mais o quê. Os profissionais podem trabalhar desde o simples aerógrafo até a pistola de tinta com o compressor, para fazer os murais.
    • Arte digital - É bastante vasto. Vai desde o uso do Photoshop (ou similares) para ilustrações diretas ou retocagens, passando para as artes vetorizadas através do CorelDraw, Ilustrator ou InkScape, muito utilizado para a criação de logotipos e artes para estampagens em camisetas. E chegando às ilustrações em 3D e animações. Nesse caso, você faz o uso de programas como o 3D Studio, Blender, AutoCAD, UDK etc. Tem mercado sim, para essas áreas. Desde animações até os jogos de ação. Porém, a base sempre foi a mesma: Uma sólida formação, e que citei acima.
    • Técnicas mistas, colagens etc. - Onde o artista faz o uso de vários meios de expressão. Se você chegou a esse nível, então pode-se considerar que deixou de ser um desenhista ilustrador, e passou a ser um artista plástico.
    Evidentemente que essa classificação é um pouco arbitrária (mas nem tanto), uma vez que depende, e muito, do estilo do desenhista, ou ilustrador ou artista plástico. E do resultado proposto no seu trabalho, e que é aceito pelo seu cliente. Um belo exemplo é o trabalho de Yulia Brodskaya. Pois, o que vale mesmo é a beleza conseguido e o seu efeito sobre os outros.

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