A decadência do mercado de animês e mangás no Brasil. Apontando soluções!
É fato que o mercado de animês e mangás se retraiu no Brasil. A situação é séria, como mostram os textos do Papo de Budega e do Gyaboo em relação, respectivamente, aos animês e mangás. O que me causa tristeza, pois vi a ascendência deste mercado, na época em que Cavaleiros do Zodíaco levou mais de 500 mil pessoas aos cinemas, com o filme A Batalha de Abel e, além disso, fiz minha monografia baseada na influência dos mangás em nossos quadrinhos (Mangá Tropical- Um estudo de Caso).
Como se justifica essa queda? Falta de investimentos na área, falta de interesse do público que migrou para outros programas e falta de cuidado (na melhor expressão) dos detentores dos direitos, tanto aqui no Brasil quanto no Japão. Sim, os japoneses tem culpa pois não sabem trabalhar no nosso mercado. Exemplos disso não faltam. Os executivos da Toei nadam em dinheiro (clique para ver) em seu país de origem, tendo sucessos garantidos como One Piece e Precure, mas autorizam o lançamento, no ocidente, de uma série, na sua terceira temporada, e com uma dublagem antiga horripilante (Sailor Moon S) negando-nos o direito da redublagem. Fora o caso Blue Dragon (dublagem em Miami) e Dragon Ball Kai (Senhor Popo azul? O que é isso?). Fora que o mercado de mangás começou um revival que poderia nos fazer temer pelo futuro dos quadrinhos japoneses no Brasil, principalmente pela qualidade do papel apresentado. Cliquem no Gyaboo para ver essa polêmica.
Podemos ficar debatendo tudo isso, mas quero que meu texto aponte em uma outra direção. Quero, com este texto, apontar um possível caminho a se seguir, para evitar ainda mais a decadência e a conseguinte recessão do mercado. Na Administração existe o jargão que diz que podemos apontar os erros, mas temos que ter a solução para eles. O meu texto vai tentar apontar possíveis soluções para este tema: decadência do mercado de animês e mangás no Brasil.
PÚBLICO-ALVO: JOVENS E JOVENS-ADULTOS!
Comecemos, então, pelo público. O Ibope Media 2010 nos mostra uma mudança no comportamento dos jovens. Eles estão mais tempo no computador. Está certo que a tv aberta é o meio com a maior penetração em nosso mercado, mas a internet não está fazendo feio e já possui 56% de penetração. Todos os produtos requerem uma vitrine para serem expostos e venderem bem. Se a maior vitrine está se fechando (televisão aberta), então procuremos aonde estão os jovens em outra vitrine (internet). O público jovem (12 a 17 anos) que usa a internet é de 22% da população que acessa o meio. Se somarmos a isso os jovens-adultos, de 25 a 34 anos, atingimos uma vitrine de 48% de um total superior a 52 milhões de pessoas. É interessante este meio de vender um produto (animês e mangás).
BANDA LARGA- DADOS DO SETOR
Segundo a ABTA, a banda larga no Brasil atingiu, ao final de 2011, o número de 4.6 milhões de assinantes. Notem que isso é o número de assinantes, então podem multiplicar esse número por, no mínimo três (família), para se ter uma noção dos que possuem internet banda larga residencial. Todavia este número está incompleto, pois falta os dados daqueles que acessam a internet de maneira móvel, isto é, internet banda-larga móvel (principalmente 3G). E isto nos mostra os dados da União internacional de Telecomunicações.
Tela Viva News nos conta que “segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT), a banda larga móvel crescerá 26% em 2011 no mundo, o triplo em relação ao aumento da base da banda larga fixa durante o mesmo período. Esse crescimento se reflete no Brasil, que, de acordo com o Balanço Huawei de Banda Larga, divulgado nesta quarta-feira, 14, deve terminar este ano com uma base de 38 milhões de acessos móveis, contra 17 milhões de conexões banda larga fixas”.
E o mercado já nos aponta uma direção, pois “as vendas de TVs estão em declínio nos EUA, e neste ano serão comercializadas mais unidades de tablets do que de aparelhos de TV no país. As informações são do diretor de análise da indústria da CEA (Consumer Electronics Association), Steve Koenig, que falou nesta segunda, 9, durante o CES, em Las Vegas. (…) foram vendidos 30 milhões de tablets em 2011 nos EUA, e a associação da indústria de eletrônica de consumo prevê que em 2015 as vendas anuais cheguem a 50 milhões de unidades. ‘É o produto de crescimento mais rápido da história da eletrônica de consumo’, conta Koenig, ‘e terá muito impacto sobre a venda de TVs’, completa. Ele lembra que no último Natal americano o Kindle Fire foi um dos presentes mais comprados. E estes tablets, segundo pesquisa da associação, são usados principalmente para o consumo de filmes, música, games e videoconferência, nesta ordem”. O destaque é meu para mostrar o ponto no qual quero chegar com este texto.
A qualidade da banda-larga no país, segundo pesquisa realizada em 2010 pela universidade de Oxford, e coordenada pela Cisco, nos mostrou que o Brasil possui, em média, 3,39 Mbps de download, 449 Kbps (kilobits por segundo) de upload e latência de 110 milésimos de segundo. Apesar da qualidade estar abaixo do desejável, ela não interfere potencialmente para bloquear o avanço da internet. Já o governo trabalha para melhorar o setor e nos mostra uma quantidade de medidas para tentar aumentar a qualidade- site Baboo!
ESTRATÉGIAS PARA 2012
Quem não ousa, e não muda, acaba perecendo, ou sendo engolido por quem mudou. A internet, a banda larga, os aparelhos móveis e os dados aqui mostrados podem nos orientar para um novo caminho distante da necessidade da televisão, das bancas de jornais e dos distribuidores que levam um percentual alto na venda dos mangás. Samurai X, Cavaleiros do Zodíaco e tantos outros mangás foram influenciados pela exibição de suas séries em tv aberta e alcançaram grandes êxitos em vendas de quadrinhos. Isso é fato. Entretanto, o mercado mudou. Os jovens estão mais tempo no computador, ou ao celular. Redes de Wi-Fi com boa velocidade estão se espalhando pelos centros urbanos. O governo espera melhorar a qualidade da velocidade e conexão até a Copa de 2014 e isso é fato necessário para alavancar bilhões de dólares em Comunicação, por isso o interesse do governo nesse assunto. Além disso, os aparelhos móveis (celulares e tablets) têm vendido excelentemente bem. Então, vamos usar a internet da seguinte maneira:
Animês- Streaming TV
O Crunchyroll, segundo release da Tv Tokyo (parceira do website) possui cerca de 1 milhão de visitas por mês e tem cerca de 70 mil assinantes. A tecnologia usada pelo site garante boa exibição de animês pela faixa de 3 Mb. E é a média da qualidade brasileira, então pode-se usar para difundir a animação japonesa. Com um trabalho dedicado nesse quesito, os jovens podem ter um primeiro contato com as séries. Este primeiro contato já garantirá dados para uma possível venda destes materiais em dvds e firmar parcerias para vendas de produtos relacionados (mochilas, cadernos, bonecos e afins). O website Crunchyroll não é a única streaming tv que existe, pois já temos o site NetFlix que já separa seu conteúdo por animação e pode-se usar outras streamings como Nico Nico, The Anime Network, Muu e etc… Usem, então, a internet para um primeiro contato oficial do público com a obra e posterior coleta de dados para as vendas. Dependendo, talvez o sucesso de alguma série venha a interessar algum canal de televisão aberta.
Mangás- um trabalho melhor.
Vamos considerar que a produção de mangás, com a qualidade que os leitores merecem, não esteja sendo possível a preço baixo. Ao comprar Solanin da L&PM, a R$15,00, eu passei a desacreditar nessa hipótese. Mas vamos lá. Vamos cortar custos e revolucionar o mercado. Segundo a jornalista e Comunicadora Sandra Monte (Papo de Budega) edita-se cerca de 15 mil exemplares por volume de obra. Se a produção for realmente baixa, pode-se usar o serviço de gráficas por demanda, isto é, deixa-se para trás a necessidade de estoque e passa-se a editar assim que um leitor compre o volume. Com entrega especial pelo correio, sem a necessidade de distribuidor em bancas, que ficam com cerca de 30% a 40% do preço de capa, consegue-se baratear a produção. Compra-se pelo site da editora, imprime-se assim que se confirme o pagamento e envia-se pelo correio, com código de rastreamento. Com isso, pode-se até criar uma lista de assinaturas mensais dos mangás. E o sistema “sob demanda” ainda proporciona outra vantagem, porque o leitor pode escolher o tipo de papel e qualidade de capa que deseja para o seu mangá, ou seja, vai ao gosto do cliente.
Ainda não entendo a relutância dos japoneses em adotar o sistema de e-readers. Os e-books são baratos, veja só o exemplo no site da PerSe, pois meu livro digital é incrivelmente mais barato que o impresso. É medo de pirataria? Existem diversos códigos de proteção digital para obras. Basta usar uma. Com um mangá digital (já existem vários mangás nacionais que usam o sistema virtual para serem distribuídos) barato pode-se aumentar as vendas pelo simples fato que o leitor terá mais dinheiro para comprar outros títulos.
CONCLUINDO
Trabalhada adequadamente a internet passa de vilã a amiga. Animês e mangás podem ser distribuídos inicialmente nesta vitrine e ajudar a aquecer este mercado em crise. Mas nada supera a propaganda e o trabalho em conjunto. Unir-se a outras empresas para financiar um produto de maneira decente, assim como fazem os executivos da Disney e Hasbro, é importantíssimo para não fazer esse mercado encolher ainda mais. São estes toques que eu queria dar. Desculpem-me por escrever tanto e espero que 2012 seja um ano de recuperação para a indústria. Desculpem esse imenso desabafo! Desculpem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário