domingo, 20 de maio de 2012

Brasil em Relação com os DVDs de Animes


Porque DVDs de Anime Não Fazem Mais Sentido no Brasil

Confesso que o título foi só para fazer você clicar no link – algo como ANIPLEX USA, Madoka Magica e DVDs de Anime no Brasil faz mais sentido pensando-se friamente, mas debaixo deste artigo permeia a ideia que dá título a este. Aproveite os dois títulos confusos e gigantes e leia o artigo a seguir.
Enquanto aqui no Brasil temos o [re]lançamento de One Piece como o grande assunto do momento quanto ao mercado interno, nos Estados Unidos tivemos o lançamento da primeira parte [de três] do anime de 2011, Mahou Shoujo Madoka Magica, em um kit, voltado para colecionadores, que é simplesmente fantástico.
Como vocês podem ver na imagem acima, o pacote inclui:
1 – Três discos: um com o Blu-Ray, outro com o DVD e um terceiro com um CD contendo a Original SoundTrack [Trilha Sonora]
2 – Slipcase para acomodar a Edição de Colecionador
3 – Capa reversível com os dois lados impressos para o case com o BD+DVD
4 – Capa com os dois lados impressos para o CD contendo a OST
5 – Folheto com 24 páginas contendo: entrevistas com a equipe e os dubladores; character designs; manga em formato 4koma desenhado pela character designer Ume Aoki; galeria de arte exclusiva por Gekidan Inu Carry [designers da série]; e muito mais.
6 – Pôster exclusivo com os dois lados impressos
7 – Cartões postais exclusivos das Ilustrações de PreView dos episódios 1 a 4
8 – Stickers exclusivos do mascote Kyubey
Tudo isso, contido em uma bela de uma caixa, é oferecido para qualquer um que esteja disposto a pagar a bagatela de noventa e cinco dólares por cem minutos de material produzido para a TV, o que é claramente um absurdo cometido pela ANIPLEX USA, subsidiária em terreno gringo da maior produtora de animes da atualidade, em prol de querer replicar nos Estados Unidos o mesmo modelo que dá certo no Japão: vender um produto de luxo por um preço abusivo para lucrar muito mesmo vendendo pouco.
Para efeito de comparação, o lançamento de Kuragehime feito pela distribuidora local FUNimation tem o preço de capa em setenta dólares que dão direito aos onze episódios da série de 2010; e para pegar um exemplo fora do âmbito da animação japonesa, o muito aguardado lançamento do Blu-Ray do fenônemo que é Game of Thrones custará oitenta dólares.
Sendo que mesmo estes preços [afinal, você pagaria quarenta e cinco dólares [aproximadamente oitenta reais] mais frete em onze episódios de anime e ainda se consideraria uma pessoa sortuda que soube comprar na pré-venda?] são considerados muito fora da realidade brasileira – c’mon, muitos devem pensar que mais de vinte reais em um anime de 1-cour já é o “absurdo dos absurdos”, sendo que fica quase difícil ampliar o mercado de venda a qualquer nicho maior que os efetivos colecionadores – imagine com este padrão que lembrando, a potencial maior empresa do ramo, quer trazer para fora do Japão.
Na resenha do citado DVD feita “com muito amor e carinho” pelo Anime News Networktem uma passagem que chama a atenção ao afirmar que
It’d have been nice if they’d charged $100 for the complete series in one box with no frills.
Seria legal se eles cobrassem cem dólares pela série completa em um box sem qualquer frescura. Não, não é – e o preço da Edição Regular em Blu-Ray é de 150 dólares pelos três volumes -; cobrar o equivalente de sete a dez volumes de manga por doze episódios pode ser muita coisa – mas justo está longe de ser uma palavra válida aqui. Não faz sentido pagar esse preço se não for hardcore, colecionador e tiver vontade de ter a caixa como um verdadeiro troféu na sua estante; afinal não é isso que muitos fazem com manga?
Agora vale pensarmos um pouco em qual ponto de vista que está sendo abordado aqui – será mesmo que precisamos pensar somente no mercado de anime [e manga] sob o viés da compra? Muitos aqui, especialmente os mais velhos, cansaram de antes do advento da internet de banda larga alugarem filmes – paga-se um preço menor para assistir uma obra durante certo intervalo de tempo; gostou e quer reassisti-la – alugue-a de novo, oras!
E em uma era aonde os meios físicos de distribuição de entretenimento vão tornando-se paulatinamente menos importantes cresce a chamada distribuição digital – e termos como iTunes e Steam cada vez mais tornam-se parte de nossas vidas – vale lembrar que também o modelo de negócio do aluguel foi praticamente refeito de acordo com as possibilidades agora presentes.
E assim o Netflix, locadora americana que começou utilizando um sistema de aluguel via correios, tornou-se um gigante do streaming pago: ao pagar uma mensalidade [na versão brasileira, de quinze reais] você tem amplo acesso a um razoavelmente variado catálogo que pode assistir na hora e jeito que achar melhor, só precisando ter acesso a internet [de preferência bom de uma maneira que o Brasil não costuma proporcionar].
Já em animes temos – além do apenas razoável catálogo de animes aqui no Brasil via Netflix – o CrunchyRoll, que promete algum dia chegar aqui em já amplamente divulgada parceria com a editora brasileira de mangas JBC.
Mas fora daqui este já é uma realidade que conta com aproximadamente setenta mil assinantes dispostos a pagar sete dólares pelo direito de ver dos infinitos Fairy Tail e Naruto Shippuuden as mais novas novidades da temporada como Another, Chihayafuru e Nisemonogatari logo após a primeira transmissão [no Japão, mesmo um anime que passa de madrugada é transmitido ao menos em cinco horários diferentes - muitos via canais UHF].
E quem não quer pagar pelo serviço e não possui exatamente pressa para vê-lo pode legalmente assistir seu anime favorito apenas sete dias depois do episódio ter sido lançado neste, o que além de ser justo acaba sendo uma porta de entrada para muitos usuários neste tipo de sistema de negócios conhecido como freemium [free + premium; de graça + luxos [para quem pagar]].
Além de outras empresas firmes lá fora [especialmente a parceria estabelecida entre FUNimation e NicoNico Douga], há certo mercado também para concorrentes menores como o The Anime Network [que mesmo assim tem os direitos sobre Persona 4 the Animation], há também inúmeros sites que fazem streaming por vias ilegais; oras, se até no Brasil, terra maldita aonde temos uma das piores internet entre os países emergentes, muitos já se utilizam desse recurso, aonde a conexão é estável o bastante este futuro já virou presente.
Um dia, quando houve o chamado boom do anime no Ocidente, houve uma pequena chance de se vender anime em DVD no Brasil, de formarmos um mercado menor mas que – mesmo capenga – funcionasse. Como os mangas funcionam por aqui. Mas a janela fechou, provavelmente para sempre, e o futuro agora é tentar apoiar-se nesta nova construção da forma na qual o brasileiro – e o ser humano contemporâneo – consume entretenimento.
Ainda há o mercado internacional para os colecionadores existentes apoiarem-se, mas a tendência é de, cada vez mais, estes formatos ultra-luxuosos focados para poucos tornarem-se a nova regra.
P.S.: Para quem conhece inglês, vale dar uma lida na série de artigos do Anime News Network entitulada The Anime Economy, principalmente este último, que explica de forma detalhada como DVDs – também os de anime – se tornaram algo do passado de um ponto de vista da lógica do consumidor.

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